terça-feira, 12 de abril de 2011

José Angelo Gaiarsa! foi embora mas, sua mensagem, FICA...





ENTRE NESTE NOVO MUNDO

AMOR - ESSE DESCONHECIDO
J. A. Gaiarsa

"O amor é a certeza de estar experimentando a
realidade como criação contínua".

Milhões de vezes já se perguntou o que, afinal, é o amor - qual sua definição? Desistiremos para sempre da tarefa de pôr o amor em palavras?

E muito, muito, pela música da voz…
Não creio me seja dado definir o amor, mas tenho o controlo filosófico (e lógico!) de poder demonstrar:
O amor é indefinível
(o amor é sempre único)
Ele é, por excelência, o sentimento/sensação do aqui/agora, isto é, a descoberta do outro, da individualidade dos personagens e do momento.
Numa reunião de amigos e conhecidos, de repente, olhares se iluminam e se buscam - disfarçadamente, é claro!
Vai começar a caçada!
O amor é a certeza de estar experimentando a realidade como criação contínua.
A realidade - fora ou dentro, tanto faz - sendo percebida como um interminável acontecer de surpresas, como se a cada momento as transformassem em outras.
Um universo mágico onde tudo é forma e transformação - e nada é "coisa" ou "objeto".
Nada além é nada aquém do aqui/agora, o acontecer que se manifesta e é percebido por mim (do meu jeito) neste momento.
Só o presente é eterno
Quero dizer seja encantamento amoroso, a descoberta ou a percepção do outro como único e do momento de nossa relação, naquele instante, como único. Nada semelhante antes nem depois.
O encantamento amoroso é um momento de iluminação natural - de revelação ou descoberta - mesmo quando o conteúdo dessa descoberta é obscuro. Por isso não pode ser definido. Por definição (!) ele é diferente em cada momento em que é sentido, tão diverso quanto as pessoas e as horas de envolvimento nas quais está presente.
"Não se pode fazer ciência com o individual, com o único", diziam os filósofos e dizem hoje os cientistas.
Todos os conhecimentos, tanto o científico quanto aquele implícito no uso das palavras, são estatísticos, de algum modo são médias.
"O" cavalo não existe; existem cavalos, na certa com inúmeras características semelhantes, mas, para o bom cavaleiro de rodeios, cada um deles é inconfundível - único.
Gente também é - como dizemos na conversa. Mas logo depois negamos a afirmação emitindo um julgamento ou uma crítica a respeito de alguém ou alguma coisa. Isto é, somos todos diferentes uns dos outros, tudo bem, mas ela está errada (portanto, eu estou certo, tenho razão, quiçá direito, a culpa é dela, claro…).
Mestre Foucault disse tudo: "Dar nome é classificar".
Isso é, dar nome consiste em situar um objeto único "dentro" de uma classe de objetos tidos como iguais ou muito semelhantes entre si.
O caso mais triste pode ser ouvido nestas frases tão comuns:
"Queria tanto ser como 'eles' são - não se preocupam com nada…" (conversa de mãe comentando adolescentes…). "Doutor, gostaria tanto de ser normal, como todo mundo…", "Você acha que isso é normal?" (isto é, parecido com o que eu imagino que todos ou quase todos fazem?). As pessoas são péssimas em perceber diferenças e aprenderam desde cedo a procurar semelhanças - que dão segurança.
Se "os homens são assim" então posso tratá-los do mesmo modo - sei o que fazer.
Sempre que pensamos em cavalos, eles são todos iguais entre si - na nossa cabeça. Na realidade, jamais foram nem serão.
Até aqui podemos estar começando a compreender - e a aceitar - algumas das distâncias e diferenças que ao mesmo tempo nos definem, nos aproximam e nos separam - a mim e a ti - os quereres…
É mais prático, é mais fácil e é muito falso dizer: "Conheço bem a Carla. Ela é sempre assim", "Da Miriam? O que você ia esperar dela?" (Isto é, nunca espere nada de diferente partindo dela.) Marido é assim, mulher é assim, filho é assim e então nos dispomos a agüentar - não são todos "iguais entre si?"
Simplificamos demais a noção que temos dos outros - principalmente das pessoas familiares (da família ou não).
Vivemos como o sargento do exército: se são soldados rasos, se estão vestidos de verde, se não têm insígnia nenhuma no ombro, então se pode tratá-los como se fossem todos "iguais entre si" - na subordinação e na indiferença.
O amor nos tira do pelotão. De repente - é sempre de repente mesmo -, em vez de ver a massa verde, uma figura se destaca, vem para primeiro plano, "me interessa" ou prende minha atenção, meus olhos.
Não sou mais "como os outros", "como todo mundo", "como eles", nem mesmo "como os da minha turma".
Cada um dos dois envolvidos em encantamento se faz, para o outro, uma "forma" bem definida contra o "fundo" confuso e cinzento do em torno - e dos demais.
Ela é uma mensagem clara a surgir do ruído da multidão.
Naqueles momentos um existe exclusivamente em função do outro, e os dois estão completamente fora do que a maioria chama de realidade.
Texto do Livro:
"Lições de Amor: Briga de Casal"
J. A. Gaiarsa
Editora Gente

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