domingo, 10 de julho de 2011

A Matemática da Vida em Fukushima!!!

 Há no Japão um grupo de 200 aposentados, em sua maioria engenheiros, que se oferece para substituir trabalhadores mais jovens num perigoso  trabalho: a manutenção da usina nuclear de Fukushima, que foi seriamente afetada pelo grande terremoto de três meses atrás. Os reparos envolvem altos níveis de radioatividade cancerígena. 


Em entrevista à BBC, o voluntário Yasuteru Yamada, que tem 72 anos e negocia com o reticente governo japonês e a companhia, usa uma lógica tão simples quanto assombrosa: “Em média, devo viver mais uns 15 anos. Já um câncer vindo da radiação levaria de 20 a 30 anos para surgir.
 

Logo, nós que somos mais velhos temos menos risco de desenvolver câncer”.
 

 É arrepiante. Na contramão do individualismo atual – e lidando de uma maneira absolutamente realista em relação à vida e à morte - sexagenários e septuagenários querem dar uma última contribuição: ser úteis em seus últimos anos e permitir que alguns jovens possam chegar às idades deles com saúde e disposição semelhantes.
 

O que mais impressiona em toda a história é a matemática da vida. A morte não é para eles um problema a ser solucionado – ou talvez corrigido, pela hipótese mística da vida eterna que medicina e biologia tentam encampar e da qual as revistas de boa saúde tentam nos convencer; a morte é, de fato, a constante da equação.
 

 Nada que o mundo ocidental não conheça. O filósofo alemão Georg Friedrich Hegel (1770-1831) certa vez definiu “mestre” como alguém desapegado da vida a ponto de enfrentar a morte, enquanto “servo”  seria um escravo do desejo de continuar vivo – e que obedeceria mais às regras que lhe garantissem a sobrevida. Em consequência, o servo anula sua vontade de transformar o mundo e a si mesmo.
 

 Criados numa sociedade de consumo, corremos o risco de levar essa escravidão às últimas, defendendo a boa saúde e os confortos com muito mais afinco do que aquilo que podemos fazer por nós e pelos outros enquanto gozamos dela. Os senhores do Japão ensinam que a morte é a hora em que podemos continuar a existir na memória das pessoas – oportunidade que, para mim, eles já não perdem mais.

"A Árvore não nega sua sombra nem ao lenhador." (Provérbio hindu)

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