sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

''Solidão''!!!


Solidão.
Tema inesgotável. Condição de quem se sabe humano. No dicionário, a definição é pobre, simplista, concreta, unívoca – bem solitária. É na filosofia e nas artes que o termo ganha enlevo. Nessa seara, a solidão recebe a dose de abstração e subjetivação que merece. Basta pensarmos a diferença abissal que existe entre solidão para um bebê no berço e para um velho num asilo. Solidão entre ficar em casa, quieto, concentrado, lendo ou escrevendo – atividades em que a solidão é extremamente bem-vinda - e estar acamado num hospital. Nem Einstein daria conta de tanta relatividade... Por essa razão, pensadores e artistas conseguem apenas tangenciar o seu significado, sem nunca, nem de perto, abranger o seu pleno sentido. Existe um tipo de solidão, recurso sem igual para poetas e compositores, que está, inequivocamente, vinculada ao amor e aos seus amantes. É matéria-prima da melhor qualidade para promover inspiração. Ao contrário do que ingenuamente pensamos, esta é a menos nociva. É uma solidão preenchida de recordações, de figuras, palavras, músicas, filmes e, além disso, dá muito o que falar. Faz a festa de psicólogos e psiquiatras. O que parece ser um grande paradoxo, é que na verdade, este tipo específico de solidão funciona justamente como uma barreira contra a solidão. A pessoa está sempre acompanhada, seja pelos seus próprios pensamentos, sonhos, lágrimas, questionamentos... essa é suportável. Tão suportável, que é motivo de criação. Não faltam canções para saudar este sublime estado: mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão; canta Vinicius. Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho; diz seu parceirinho João Gilberto. Outros intitularam suas canções com ela, como Alceu Valença em Solidão – a solidão é fera, a solidão devora. Canta sua solidão igualmente em Na primeira manhã – Alceu, inspirado pela solidão de sua primeira noite logo após ser deixado pela mulher compôs esse lamento de abandono. Neruda poetiza: saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...
Porém, há alguns artistas e pensadores, mais sóbrios e solitários, que falam de outro tipo de solidão. A solidão que dói na alma e corrói os ossos. Aquele tipo, insubordinado e atroz, cujo caráter inominável, irrepresentável e incoercível mal cabe dentro da gente. Incomoda, faz barulho, desespera, aflige, alucina. Para esse tipo cruel de solidão, tivemos autores de inestimável lucidez, sabedoria e uma boa porção de tristeza e solitude. Raquel de Queiroz, com aquela maturidade de quem já nasceu velha, diz: a gente nasce e morre só. E talvez, por isso mesmo, que se precise tanto viver acompanhado. Clarice Lispector, com seu estado de alma sempre melancólico, conclui: e ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a verdadeira solidão. Mario Quintana, bem pessimista aqui, escreve: viajar é mudar o cenário da solidão.
No entanto, descobri algo interessante escrevendo esse texto. Os mais niilistas dos filósofos, são otimistas quanto à solidão. Schopenhauer afirma: solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais. Nietzsche: minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas... detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia.
Dentre todas essas percepções, fico com a de Clarice.
Muito a refletir... Solidão? Aprecie com moderação.

3 comentários:

  1. Solidão Vista pelo Chico Buarque


    Solidão não é falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
    Isto é carência...
    Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
    Isto é Saudade...
    Solidão não é o retiro voluntário que agente se impõe, as vezes, para realinhar os pensamentos...
    Isto é equilíbrio...
    Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsóriamente para
    que revejamos a nossa vida...
    Isto é um princípio da natureza...
    Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
    Isto é circunstância...
    Solidão é muito mais do que isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa Alma.

    Francisco Buarque de Holanda

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  2. "A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais."

    (Arthur Schopenhauer)

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  3. "O mais eficaz remédio para um cérebro convulsionado é a solidão."
    (Camilo Castelo Branco

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