sexta-feira, 10 de outubro de 2014



Edição do dia 21/09/2014
21/09/2014 22h47 - Atualizado em 22/09/2014 06h13

Vacina pode curar a mais devastadora epidemia de ebola da história

Processo de produção é lento. Para chegar até as milhares de doses necessárias, será preciso esperar até dezembro.

Uma epidemia mortal e fora de controle que a Organização Mundial de Saúde considera uma ameaça mundial. O ebola já atinge cinco países da África: Guiné, Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal. O número de mortos, que chegou à marca de 2,5 mil, não para de crescer.
Mas, finalmente, a ciência parece ter chegado a uma cura para a pior epidemia de ebola da História.
Uma doença altamente contagiosa e mortal. Sintomas terríveis. Febre, dores e vômitos. O ebola já matou mais de 2,5 mil pessoas e, até agora, não tem cura.
O avanço descontrolado da doença na África provocou uma crise internacional. Esta semana, os Estados Unidos anunciaram o envio de três mil militares para tentar ajudar na contenção dos principais focos.
Até agora, médicos e cientistas estão perdendo a batalha. Essa é a pior epidemia de ebola de todos os tempos.
Há nove meses, o vírus se espalha por Guiné, Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal. Sete em cada dez doentes morrem. Agora, surgiu um remédio que pode virar esse jogo.
A atual epidemia começou em dezembro, em uma vila remota da Guiné. Um menino morreu com febre alta, diarreia, vômitos e hemorragia interna. Ninguém sabe o nome dele. Ele passou a ser o "paciente zero", a origem do surto.
Nos dias seguintes, toda a família do garoto morreu. Depois, as enfermeiras que cuidaram deles. Em seguida, todas as pessoas no vilarejo que entraram em contato com as vítimas.
O vírus do ebola vive em morcegos que se alimentam de frutas nas florestas africanas. Eles não desenvolvem a doença, mas as pessoas se contaminam ao comer esses morcegos. Um costume entre esses povos.
Durante 14 semanas, a epidemia se espalhou sem ser detectada. Quando se descobriu que o ebola estava se alastrando dessa forma, já era tarde demais.
“Durante todo esse tempo todo, as pessoas não sabiam como se proteger”, afirma Inger Damon, gerente do Centro para o Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, nos Estados Unidos.
Os poucos postos de atendimento na Guiné são administrados pela ONG Médicos Sem Fronteira.
“A gente só vê medo e desespero nos olhos das pessoas”, conta a médica Cokie Van Der Veld, do Médicos Sem Fronteira.
O ebola é transmitido pelo contato com as secreções do corpo. Lágrimas, saliva, sêmen e, mesmo o suor, transmitem o vírus. Um problema a mais em países onde a higiene é precária.
O vírus entra na corrente sanguínea e penetra nas células do corpo, onde o ebola se reproduz e se multiplica. Os tecidos internos morrem provocando hemorragias.
“Os doentes sangram pelas gengivas, pelas narinas, têm diarreia e vômitos terríveis”, revela Cokie Van Der Veld.
A maioria dos doentes morre em 12 dias, mas os corpos têm tantos vírus que ainda são altamente contagiosos. Prepará-los para o enterro é uma atividade de alto risco.
“É como apagar uma pessoa. Tudo é esterilizado e tudo que entrou em contato com ela é queimado ou lavado com desinfetante. Os parentes só podem ver o morto através de uma cerca”, afirma a médica do Médicos Sem Fronteira.
As epidemias anteriores de ebola não ultrapassaram regiões remotas da África, mas essa chegou a capitais e pode alcançar qualquer lugar do Planeta, se um portador do vírus embarcar em um avião. O ebola pode ficar incubado por mais de 20 dias antes dos primeiros sintomas.
Por isso, começou uma corrida contra o tempo para encontrar a cura. O primeiro passo foi entender por que algumas pessoas sobrevivem ao vírus. Nessa epidemia, três em cada dez infectados vencem o ebola.
O corpo humano consegue produzir anticorpos que matam o vírus. Mas como o ebola se reproduz com uma velocidade enorme, devastadora, a vítima acaba morrendo antes que o organismo tenha tempo de eliminar o intruso.
A chave estava na forma como o ebola entra nas células humanas. O vírus tem pequenas ‘garras’ de proteína que o prendem na membrana das células. Elas não entendem que ele é um agressor e o deixam entrar. Lá dentro, ele se multiplica.
Sabendo disso, foi projetado um remédio revolucionário chamado ZMapp, uma vacina que ajuda os doentes a produzirem os anticorpos que impedem que o vírus se ‘agarre’ às células.
Impedidos de entrar, os vírus são atacados pelo sistema imunológico e destruídos. O problema: só três doses do remédio, ainda experimental, existiam no mundo inteiro.
O enfermeiro inglês, Will Pooley, voluntário na Libéria, acordou uma manhã com febre alta. Ele fez o teste para ebola e deu positivo.
“A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: ‘Como vou contar para os meus pais?’. Sabendo o que essa doença provoca, é assustador”, diz o enfermeiro Will Pooley.
Will foi uma das primeiras três cobaias a usar o novo medicamento, junto com o médico norte-americano Kent Brantly e a missionária Nancy Writebol. Foi uma operação de risco.
O ZMapp nunca tinha sido testado em humanos. Seu efeito podia ser um fracasso.
“Eles precisaram tomar a decisão se iam ou não injetar o ZMapp, era uma coisa que ninguém sabia muito a respeito”, afirma o chefe do laboratório canandense para patógenos especiais, Gary Kobinger.
Horas depois de usar o medicamento, a temperatura deles baixou. O vírus estava sendo eliminado do organismo. Em poucos dias, os três estavam recuperados.
“Com o ZMapp, nós ganhamos tempo para que o organismo do paciente produza as suas próprias defesas”, diz Gary Kobinger.
Agora o desafio é produzir rapidamente o ZMapp e distribuí-lo para as comunidades africanas afetadas. Parece uma fazenda de tabaco, de alta tecnologia, mas é lá que se produz a vacina do ebola.
Um pedaço extra de DNA é injetado nas folhas. Esse código genético diz para as plantas produzirem os anticorpos que atacam os vírus do ebola.
O processo de produção é lento. Os cientistas só conseguem produzir alguns gramas de vacina. Para chegar até as milhares de doses necessárias, vamos ter que esperar até dezembro.
Longe dos laboratórios, na África Ocidental, o número de vítimas continua subindo, mas, finalmente, uma arma para conter a mais devastadora das epidemias de ebola está a caminho.

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