Pedro Dantas, RIO - O Estadao de S.Paulo
O estupro e morte da menina R.S.S., de 9 anos, no feriado, chamou a atenção das autoridades para a situação de crianças e adolescentes que vivem nas ruas e prédios abandonados da Lapa, no centro do Rio. Como pedintes ou punguistas, eles são um contraponto à revitalização da região e ainda expõem a fragilidade do policiamento.
O Estado esteve no bairro uma semana antes do carnaval e flagrou a ação dos menores nas ruas. Por volta da 1 hora, a poucos metros dos Arcos da Lapa, um grupo de crianças entre 6 e 14 anos, incluindo várias meninas, cheirava cola e dançava. Ao perceberem três turistas do outro lado da rua, atravessaram, os cercaram e iniciaram uma dança. O rapaz e as duas moças acharam graça. O menor deles tentou colocar a mão no bolso do rapaz que, atento, evitou o bote. Uma turista perdeu o maço de cigarros.
"As crianças habitam dois prédios invadidos e as diversas cabeças de porco (cortiços) da região. Alguns chegam todos os dias da Baixada Fluminense para pedir dinheiro. Já pedimos providências, mas a ação mais enérgica das autoridades chega apenas após o delito cometido", lamenta o presidente da Associação de Moradores e Amigos da Lapa (AMA-Lapa), Jurandir Albuquerque.
R. era mais uma das 40 crianças que ocupam junto com cerca de 60 adultos o antigo prédio número 48, na Rua do Riachuelo. De acordo com familiares, a ocupação de cunho político do antigo prédio do Instituto Nacional da Seguridade Social transformou-se há muito tempo em um abrigo para o consumo de crack. "Naquele prédio você encontra de tudo. O Conselho Tutelar deveria agir porque muitas crianças moram ali", disse a tia de R., Rosana da Conceição, de 37 anos.
Na noite de sábado de carnaval, R. pedia dinheiro junto com o irmão, de 5 anos, e uma amiga, de 6. Os dois viram quando um homem ofereceu um arco para a menina e a levou no colo. No dia seguinte, o corpo foi achado no Aterro do Flamengo.
"Foi uma tragédia anunciada. As crianças ficam muito expostas. Ninguém as protege. Quando levadas para os abrigos da prefeitura, elas entram por uma porta e saem por outra", diz o presidente da AMA-Lapa.
Na sexta-feira, a ação das crianças na rua acontecia a poucos metros de um ônibus da PM estacionado. Lá, um policial sozinho tomava conta de quatro flanelinhas detidos dentro do veículo. Eles reclamavam que legalmente não poderiam permanecer presos ali. O policial alegou que a viatura que levaria o grupo ao distrito estava atrasada. A poucos metros, dois colegas dele reclamavam. "Não tem policiamento suficiente. É muita gente para tomar conta e poucos policiais mal posicionados", desabafou um soldado.
A ação de punguistas na Lapa responde por 30% das ocorrências envolvendo turistas estrangeiros nos fins de semana.
Segundo o delegado titular da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), Fernando Vila Pouca, a Lapa não é uma região de risco. Ele afirma que a Praça Paris, na Glória, e o Aterro do Flamengo são pontos críticos no entorno. Moradores de Araruama, na região dos Lagos, Sandra Delamar da Costa, de 44 anos, e o filho Victor Delamar Magalhães, de 22, foram vítimas de um menor e um homem armado quando saíam, a pé, de um show no Aterro.
"O turista não deve percorrer grandes distâncias sozinho. Se tiver necessidade de deslocamento, o melhor é estar em grupo. Caso contrário, o visitante fica mais suscetível às abordagens de menores de rua e usuários de crack", alertou o delegado. Neste carnaval, a polícia registrou redução de 26% no número de assaltos a turistas no Rio, na comparação com o mesmo período de 2009.
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